
26 Mar Colômbia | Equador e Galápagos
EM VIAGEM
EM VIAGEM
“De outras latitudes”
América do Sul só por si, soa a exotismo e romances de prémio nobel.
O nome deste continente remete para florestas mágicas, Xamãs e para uma tropicalidade latente.
A diversidade dita a cadência de uma viagem por estas terras latinas, por onde o “salero” é dominante.
É por uma geografia abonada que recorda as mulheres de Botero, que nos é revelada uma mistura de modernidade e vanguarda moldada por tradições e costumes que têm perdurado durante séculos.
Por dois meses, aventurei-me por estes dois países vizinhos e ilhas mágicas, onde os backpackers são uma constante e a mochila, o único requisito para a simplicidade que apelam os lugares. Foi na Colômbia que passei a maior parte do tempo. São milhões, os kilometros quadrados que perfazem este país único e muitas as rotas onde podemos experienciar o realismo mágico que Gabriel Garcia Marquez imortalizou nos seus livros.
As distâncias perpetuam-se por sinuosas estradas, por onde os “autobuses” serpenteiam, como que aleatoriamente..
Antes de partir, os motoristas benzem-se e pedem proteção em voz alta aos vários santos que em posters e souveniers rodeiam a cabine e enfeitam o espelho retrovisor. Nós, comuns dos mortais e viajantes, sentimos que a viagem que se segue, está de facto entregue a algo superior que nos guia e é com alivio, que chegamos salvos a mais um destino…
Cada região oferece actividades diferentes que nascem da riqueza da área, mas são como que regra, as paisagens impactantes, os vales de perder de vista, as florestas densas repletas de exótica fauna e flora e marcos históricos de outros tempos. São vários, os lugares ditos Património da Humanidade e um verdadeiro previlégio para quem os visita.
Para mim, toda a região do Caribe que se estende a Norte e se debruça num mar de azul indigo e correntes fortes, foi dos lugares que mais me marcou, envoltos por um calor morno que nos tenta para mais um banho de mar e um passeio pela areia que nos encadeia, de tão branca, a sensação é a de um oásis, onde podemos parar, para enfim descansar das caminhadas, das longas estradas, do agito das cidades, do burburinho das primeiras semanas de viagem.
Enfim sós. Apenas rodeados dos elementos que de forma tão selvagem nos imprimem a pele, transpirada de puro prazer.
O lugar tinha um nome celeste – Los Angeles. Onde tudo remetia para o flutuar das nuvens. Onde o rio, cor de abacate, lançava ao mar os seus braços azul postal.
Contavam, que ao fim do dia, se podiam ver caimans, espreguiçados nos últimos raios de sol. Avistamos a fluidez lânguida das garças brancas, cujo eco permanece da nossa memória, como que para ficar ali para sempre ao encontrar o seu poiso.
Lembro-me do dia em que o bando de pelicanos nos presentiou com o seu vôo rasante e pose jurássica. Lembro como o tempo demorou, naqueles instantes. Recordo o Vale das Palmas, onde as palmeiras ascendem ao firmamento, desafiando a gravidade. Toda a envolvente é de magia. O silêncio, um portal para outro layer de existência…
Rumo ao lugar onde o Mundo se divide em dois por uma linha imaginária, aterramos na cidade de Quito, pousada sobre montanhas pintadas de verde e onde ao centro, o caos impera. A segunda cidade mais alta do mundo, dizem. E de facto, a altitude faz-se sentir em passos mais prolongados que cedo nos cansam e nos fazem reclamar por oxigénio… Continuando a demanda, de fugir das cidades… numa descida “a pique” até ao nível do mar, partimos para a floresta. Amazónia de seu nome.
Majestosa, quente, perigosa, tentadora, sábia, enigmática, húmida … são inúmeros os adjectivos que caracterizam esta Matriarca vestida de clorofila, rainha da camuflagem, que apela ao nosso lado primal e agita os nossos sonhos noite a dentro.
Da terra, de pantône improvável, os recursos brotam com determinante espontaneidade. Ao alto, avistam-se muito ao longe, os picos das arvores, que trepam como feijoeiros mágicos em busca da fonte de luz.
Transpirados de vida, coexistimos neste habitat que desafia a sobrevivência dos mais tenazes e deita por terra qualquer pretenção de superioridade em relação á natureza, que impera possante, vigorosa e exuberante.
Á noite o verde transforma-se em preto e o universo grita-nos ao ouvido como gralhas. De todos os orifícios do mundo, saem seres vivos para conversar e até ao som dessa orquestra ensurdecedoura, cobertos por redes brancas que caem sobre a cama em dossel, que rendidos, acabamos por adormecer.
O burburinho matinal de biodiversidade, anuncia os primeiros raios de poderoso sol. Arvores ancestrais ditam-nos baixinho ao ouvido, as receitas medicinais que guardam em segredo…Prodigamente criada, na floresta, temos tudo o que realmente precisamos… Podendo ver de cima, acredito que se assemelha a uma mandala gigante, cuidadosamente desenhada pelo contorno das margens dos seus rios serpente, pautada pela magia celebrada dos seus Xamãs e os seus lendários golfinhos cor de rosa. O espirito da floresta faz-se sentir por quem lá passa…
Plantadas no extenso Oceano Pacifico, as ilhas Galápagos, também conhecidas por ” Las encantadas”, são como bonsais num jardim… Peculiares, pelo seu aspecto e características únicas no planeta, são como a flor do principezinho que requer todos os cuidados de preservação, num planeta que tende a “correr ao contrário”.
Charles Darwin encontrou aqui inspiração para desenvolver a sua teoria da selecção natural, que daria origem à publicação de “A origem das espécies”. E percebe-se porquê.
Nas galápagos, literalmente tropeçamos na Natureza, que inocentemente se passeia nos caminhos. Habituados a não terem predadores, os animais da ilha, não se parecem importar ou temer a nossa passagem.
É uma experiência rara, caminhar ao lado das jurássicas iguanas ou mesmo nadar com elas, já que são a única espécie do mundo, aquática. É inesquecível boiar com as tartarugas marinhas ou passear junto das tartarugas gigantes terrestres. Mergulhar com os leões marinhos e fazer snorking rodeada de tubarões no seu habitat natural, um privilegio.
Cada ilha deste arquipélago, revela-nos um manancial pérolas bem guardadas. Eleito por muitos como o habitat ideal para perpetuar a sua genética, de cada bocadinho de terra, mar, ou rio de lava incrustado, prolifera vida.
São diversos os rituais de acasalamento a que tivemos a honra de assistir. Destaco o som e ritmo único de duas tartarugas gigantes a fazerem amor entre folhagens. Lembro-me de me comover com tão rara imagem e me sentir grata por conhecer este paraíso tão singular na Terra.
As praias são idílicas. Desejamos voltar atrás no tempo das descobertas e desvendar pela primeira vez este paraíso, para o poder preservar para sempre, intacto, tal e qual a flor de Saint Exupéry…
” A vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”. Gabriel Garcia Marquez