MARIA JOÃO BASTOS

MARIA JOÃO BASTOS

35mm

Vestido INCROYABLE

 

Por Rui Vilhena ( argumentista )

Vinícius de Moraes disse que “as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”.  O poeta estava certo? Ser belo facilita a vida, ajuda a ultrapassar obstáculos com mais facilidade?

Também há um ditado que diz “Não há bela sem senão”… Se algumas vezes a beleza pode abrir certas portas, também pode dificultar a vida. Quantos casos conhecemos em que o preconceito associa a beleza à falta de inteligência? Quantas vezes uma mulher bela tem que provar ser mais do que uma cara bonita para ser reconhecida pelas suas capacidades? Quantas vezes uma mulher bela, apenas tentou ser uma boa profissional e acabou por ser assediada? Infelizmente a história está cheia desses exemplos, mas felizmente os tempos estão a mudar! A verdade é que muitas vezes a beleza é o obstáculo em si.

No cinema e na televisão, o guarda-roupa costuma ser copiado pelo público e até servir de inspiração ao mundo da moda.  O universo da ficção impulsiona tendências.  De que forma a roupa ajuda o actor na criação da personagem? Um guarda-roupa errado pode prejudicar a actuação?  

O cinema sempre foi um retrato histórico de determinado momento também através dos seus figurinos, que reflectem os hábitos e costumes da sociedade e da época abordada e sempre serviram de inspiração para a moda. Para o trabalho e composição das personagens é essencial. Tudo o que envolve o universo da personagem – figurino, cenografia, contexto histórico – é parte do puzzle do trabalho de construção que o actor faz em cada projecto. Todos esses elementos transportam-nos para um determinado universo e assumem-se como um veiculo de comunicação contando a história a par com a interpretação do actor. Se algum deles for desajustado certamente fragiliza a qualidade da performance.

 

Vestido PÉ DE CHUMBO

http://www.pedechumbo.pt

 

Saia e blusa REVISE

 

Vestido DAVID FERREIRA

 

Já que estamos a falar da sétima arte… Há atores que rejeitaram papéis por não se entusiasmarem com a personagem ou o argumento e, mais tarde,  o filme torna-se um sucesso.  Já passaste  por essa experiência? Achaste, mais tarde, que foi uma má decisão? 

As minhas decisões no que toca à minha carreira são muito baseadas na minha intuição.  Para mim é mesmo o mais importante, porque a minha primeira sensação quando leio um guião normalmente está sempre certa. É ou não é para mim naquele momento da minha carreira? Quero ou não quero fazer? É uma personagem que me vai acrescentar algo ou não? E a partir da minha decisão, não penso mais nisso. Mesmo que seja um sucesso, eu tinha a minha razão para não estar envolvida naquele projecto. Até hoje a minha intuição nunca me falhou.

Já interpretaste uma diversidade enorme de personagens femininas. Algumas com personalidades muito marcantes.  Desde as inspiradas em pessoas reais, como a Vera Lagoa na série “3 Mulheres”, como as ficcionadas. Todas extraordinárias, mas acredito que haja uma preferida, uma que tenha sido fascinante interpretar.  Qual foi?

É de verdade uma pergunta muito complexa para um actor. A entrega a cada personagem é tão intensa que transforma essa experiência em algo único e inigualável. Tenho ao longo da minha carreira escolhido sempre personagens muito diferentes exactamente para que dessa forma possa entrar em universos totalmente distintos e isso é o mais fascinante para mim.
Mas  pronto, se tiver mesmo que escolher uma… diria a Vera Lagoa, pois foi um trabalho biográfico, o que me exigiu não só um mergulho muito intenso no universo da época retratada, mas acima de tudo no universo de alguém por quem me senti profundamente fascinada e desafiada. Eu queria ser justa com a “Vera Lagoa” ao contar a sua incrível história, ao dar vida à sua complexa e sedutora personalidade e isso é de uma  enorme responsabilidade. Ainda por cima em se tratando de alguém que ainda está tão presente na memória dos portugueses e que viveu num momento tão sensível para todos. Pode soar estranho, mas a verdade é que senti a presença dela em cada gesto, em cada palavra, em cada sorriso e isso é obviamente  uma experiência muito forte para uma actriz.

O mundo está a atravessar um período turbulento e preocupante. Parece que não aprendemos nada com a história e que estamos condenados a cometer os mesmos erros do passado.  As “fake news” são a arma política dos lunáticos em ascensão.  Como é que te defendes das noticias falsas, que percebes que estás a ser enganada?  

Não é de hoje que noticias falsas são divulgadas como verdade. Lembro-me da minha nova  série “A Espia” que estreia no dia 8 de abril, e que retrata a realidade da espionagem na segunda guerra mundial, onde a contra-informação era uma arma. Foi exatamente  uma informação falsa, transmitida por um espião duplo  ao serviço do regime nazista, que  permitiu que acontecesse a batalha da Normandia dando assim início à vitória dos aliados sobre os nazistas. A principal diferença hoje é que as fake news ganharam uma enorme dimensão e rapidez e são transmitidas em grande escala nas redes sociais alcançando milhões de pessoas.

Para ser honesta, não acredito na maioria das coisas que leio nas redes sociais, não sou frequentadora de  muitos sites, apenas os que realmente confio, e procuro sempre confirmar a informação em veículos credíveis. O importante é duvidar, confirmar a sua veracidade e não partilhar se não tivermos a certeza de tratar-se uma notícia verdadeira. Cabe a cada um fazer a sua parte para não alimentar e para combater a divulgação de noticias falsas.

 

 

Vestido MARTU

Vestido SAINT LAURENT NA STIVALI

 

Algumas actrizes europeias e americanas têm uma visão antagónica do movimento #MeToo.  Catherine Deneuve, por exemplo,  diz que o movimento serve os interesses “dos inimigos da liberdade sexual, dos extremistas religiosos e dos piores reaccionários”.  Já se fala em legislar multas para homens em caso de sedução  mais abusiva. Flirt e assédio sexual  foram colocados no mesmo saco? A arte de seduzir tornou-se um jogo perigoso?

Tornou-se, mas  a verdade é que  aconteceram muitas situações, agora divulgadas, inaceitáveis, que têm que ser punidas e acima de tudo têm que ter um fim.

Muitas vezes para mudar mentalidades e comportamentos são necessárias medidas extremas, mas se for para mudar de verdade vale a pena.

Espero no entanto que a  arte de sedução não tenha os dias contados, é preciso encontrar esse equilíbrio que  pode ser baseado no respeito pela liberdade do outro. Não é não! E é uma palavra muito clara.

Vamos jogar, entre adultos, até onde os dois permitirem. Tudo o que ultrapassa a vontade e a  de liberdade do outro é e tem que ser altamente condenável.

Vamos falar de estilo pessoal. A “imagem de marca” de Ann Wintour são os óculos escuros – sempre! – e o corte de cabelo Chanel, Victoria Beckham são os saltos altos… Qual seria a Maria João Bastos trademark?

Eu diria a simplicidade, é sem dúvida algo que define o meu estilo. “Less is more” sempre foi o meu lema e dificilmente me verão com um look muito elaborado quer a nível de estilo quer a nível de cores.

E já que estamos a falar de estilo, és referida sempre pela tua elegância. Tal como eu, sei que és uma amante/defensora dos animais. Apesar dos avanços tecnológicos, a industria da moda nem sempre anda de mãos dadas com a causa animal. Isso influencia as tuas escolhas? Chique é ter um guarda-roupa eco-friendly?

Influência, é impossível não influenciar. Mas não apenas no meu guarda roupa, em todo o meu estilo de vida, da alimentação a outros produtos que utilizo. Ser chique é ter um estilo de vida eco-friendly e essa é uma preocupação cada vez maior na  minha vida.

 

Vestido DAVID FERREIRA

 

Fotografia ANA CUNHA

Stylist ADDICTED PRODUCTIONS

Hairstylist WELLINGTON DE OLIVEIRA

Makeup TOM PERDIGÃO

Produção FRANCISCO BRAVO FERREIRA

 

 

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